Seminário do TCMSP reúne especialistas de Engenharia Civil e Arquitetura e estuda casos de uso do BIM em obras públicas Notícias

25/04/2025 12:00

Mais de 250 profissionais de Engenharia, Arquitetura e Construção Civil reuniram-se no Plenário do Tribunal Contas do Município de São Paulo na manhã desta quinta-feira (24/4), para se aperfeiçoarem na aplicação da metodologia BIM (Building Information Modeling). O Seminário Aplicação da Tecnologia BIM em Obras Públicas trouxe especialistas do setor público, privado e de entidades de classe que expuseram casos e provocaram reflexões necessárias ao desenvolvimento e à popularização do processo.

Idealizado pelo Presidente do TCMSP, Conselheiro e Engenheiro Domingos Dissei e coordenado pelo Chefe de Gabinete da Presidência, Rubens Chammas, em parceria com o assessor e também engenheiro Amândio Martins, o evento faz parte dos esforços que o Tribunal vem empregando para gerar economia real aos cofres do município. "Como Conselheiro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, e principalmente. como engenheiro civil, tenho visto de perto os desafios e as oportunidades que as novas tecnologias trazem para o setor público e também para esta Corte, cujo papel fundamental e buscar economia ao erário, através do controle externo e concomitante”, analisou Dissei.

Não tenho dúvidas sobre a importância da utilização dessa ferramenta no nosso dia a dia. Um bom projeto vale muito e é a condição para uma obra bem feita, com qualidade. Aqui mora o BIM, que vai evitar desperdícios e os famosos aditamentos”, estima o Presidente do Tribunal em sua palestra magna.
 

CASOS EM SÃO PAULO


Marcos Romano, engenheiro do departamento de projetos da Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB), corroborou a visão de Dissei na abertura do primeiro painel da manhã, intitulado Experiências da Prefeitura de São Paulo no uso do BIM. Romano apresentou uma série de casos de construção de moradia popular em que a utilização do BIM trouxe agilidade, eficácia e diminuiu o custo das obras. “Se fizermos o projeto, o quantitativo e o orçamento próximos à perfeição, por que teremos aditivos?”, questiona. A SEHAB assinou em 2021 o primeiro contrato utilizando BIM e hoje já incorporou até o acompanhamento virtual das obras, como do Residencial Jardim Esmeralda, próximo ao Rio Pequeno.


Os casos de obras municipais planejadas ou executadas com o BIM se estenderam aos projetos Viaduto T5, Complexo Viário Pirituba-Lapa, CEU Pinheirinho D’Água, UPA Jabaquara entre outros apresentados pelo Secretário Marcos Monteiro, da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras do Município de São Paulo. A implementação do BIM neste órgão iniciou em 2020 e, desde então, tem auxiliado técnicos da Secretaria a adequar estudos para aprimorar os processos licitatórios, além de auxiliar na gestão e na fiscalização dos projetos. Um exemplo foi o Terminal Itaquera, em que o método BIM ajudou na detecção antecipada de conflitos no projeto, como desnivelamento de pisos e parede de contenção fora do prumo. Isso pode ser ajustado antes da obra começar e evitou gastos desnecessários de dinheiro público.


O Terminal Satélite Itaquera foi outro exemplo em que o BIM evitou desperdício ao erário. O arquiteto da SP Obras, Rogério Akamine, expôs o caso lembrando que a tecnologia foi capaz de detectar falhas no projeto ao analisar lajes em relação a rampas e eletrodutos que se chocariam com vigas. Ao identificar as inconsistências previamente, houve ganho considerável de tempo. Atualmente, a SP Obras utiliza o BIM para modelagem de projetos executivos, verificação de interferências, planejamento de obra e estimação de quantitativos, na comunicação entre analistas e engenheiros na obra e para o fluxo de aprovação de um empreendimento, com a funcionalidade de matrizes comparativas de disciplinas, tudo integrado com a ABNT e com normas ISO.


O engenheiro da SP Obras, Jhonattan William Canassa mencionou a contribuição do BIM nas obras da Av. Santo Amaro. Já em 2019, a metodologia foi usada na produção de nuvem de pontos de uma área de 2 km de extensão e o geo-radar mapeou as redes subterrâneas existentes na região. 
A maturidade na implementação da modelagem passa pela experiência. Daí a necessidade, apontada pelo auditor de controle externo do TCMSP e diretor de comunicação do Instituto Brasileiro de Auditoria em Obras Públicas (IBRAOP), Fernando Morini. Ele sugere que os CEUs sejam usados como projetos piloto de aplicação de BIM em manutenção. “Vamos fazer simulações de contenção de encostas e canalização de córregos”, propõe.


PELO BRASIL


Do Paraná veio a exposição dos casos da construção do aeroporto da cidade de Ponta Grossa e da sede do conselho tutelar do município de Marialva, cuja execução não teve um aditivo sequer e ainda registrou redução de 70% do tempo inicialmente estimado. Os exemplos de precisão foram trazidos pela arquiteta e urbanista Lucimara Ferreira, da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística do Paraná, na abertura do segundo painel da manhã, com o título Potencialidades do BIM no Controle e na Fiscalização de Obras Públicas.


O Estado vizinho é um dos pioneiros na aplicação do BIM e adepto à utilização de ferramentas open source na construção do método. Lucimara Ferreira apresentou o conceito de OPEN BIM, uma abordagem à metodologia baseada em colaboração transparente e aberta entre todos os participantes de um projeto, independentemente do software que cada um utiliza. Para isso, é necessário adotar padrões abertos como arquivos em formato IFC, para garantir a interoperabilidade dos sistemas. A propósito, IFC também foi o formato adotado pela SEHAB.


Os pontos trazidos por Lucimara levantaram questões que ainda precisam ser melhor desenvolvidas entre órgãos públicos, como ter um CDE (na sigla em inglês Commom Data Enviroment, ou Ambiente Comum de Dados) que comporte todo o ciclo de vida de um empreendimento. Na visão de Lucimara e de outros especialistas presentes, possuir um CDE permite que o poder público ou o órgão designado acompanhe toda a vida útil de uma construção, mesmo após ela ter sido entregue à população.


BIM NÃO É SOFTWARE


Por outro lado, o também arquiteto e urbanista Eduardo Nardelli, Vice-Presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia (SINAENCO), sinalizou a sensibilidade de informações contidas em um projeto de aeroporto, como o trazido pela colega paranaense, fortalecendo a visão de que BIM não se resume a contratar software. “Temos que tirar isso da cabeça. Não é comprando software de modelagem que se traz BIM a um projeto. É preciso gerenciar esse projeto. BIM é um processo disruptivo que precisa de processo específico de contratação de serviços e da própria obra”, alerta.


À frente da Coordenadoria de Auditoria de Obras de Infraestrutura, o auditor de controle externo e engenheiro civil Dimitri Rodermel sentenciou já na mediação do primeiro painel: “Não se trata de compra de software, mas de uma mudança de cultura”.


Edson de Souza, auditor de controle externo do TCE do Pará, reforça a mensagem de que “BIM não o é software”, mas um trabalho colaborativo que demanda seres humanos capacitados. “A implementação da metodologia BIM precisa ser top-down. É preciso que o gestor abrace esta ideia”, recomenda. Para que seja amplamente adotado e até que se atinja um grau adequado de maturidade de aplicação, uma série de iniciativas vêm sendo tomadas na direção de treinar profissionais do setor.


DIVULGAÇÃO E CAPACITAÇÃO


Marcos Monteiro, Secretário da SIURB, contou que, em novembro de 2024 foi criado um grupo de trabalho sobre o BIM na SP Obras, para dedicar-se à preparação de manuais BIM e Cadernos de Modelagem BIM para execução de projetos e obras. A meta é de que essa leva de materiais fique pronta até o final deste ano e se some à Sala de Experiência, ao Laboratório BIM da SP Obras e à Biblioteca da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia da SIURB para incentivar o aprimoramento profissional na aplicação dessa metodologia. 


Eduardo Nardelli, do SINAENCO, desenvolveu um Guia de Boas Práticas em BIM em parceria com a Universidade do Minho, de Portugal, e com o Mackenzie, em São Paulo. O material é fruto de uma extensa pesquisa feita sobre casos concretos, publicações científicas e com a análise da legislação brasileira, como o Decreto Federal 10.306, de abril de 2020, que trata sobre o uso do BIM em contratações no setor público.


José Eduardo Frascá Poyares Jardim, presidente do Instituto de Engenharia de SP, comentou a contribuição que sua entidade vem prestando na disseminação dos conhecimentos na área: “Temos uma sala BIM, já formamos vários colegas nesta área. Acreditamos no BIM; é um progresso muito grande”, avalia.


O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA SP) também vem reunindo esforços na propagação da metodologia BIM através do que chama Estratégia BIM BR. Abner Rodrigo, engenheiro civil e coordenador do GT BIM, do CREA SP, vem realizando pesquisas e treinamentos de profissionais para apresentar as potencialidades do modelo pelo setor público e privado, além de chamar a atenção para a regulação, a normatização, a universalização, a inovação e a integração com o objetivo de atingir eficiência e sustentabilidade. Tudo isso, segundo Abner, é para tornar o BIM “compreensível e aplicável”: “É preciso que falemos de BIM como se tivéssemos 5 anos de idade, falando fácil”, destaca. 
Embora o BIM já seja uma realidade, para Abner ainda não é uma prática comum. Marco Alessio Antunes, Presidente da SP Obras, foi ao encontro dessa percepção e disse, na mesa de abertura: “BIM já é o presente. Nossos contratos e projetos tendem a melhorar muito com ele”, mencionou.

 

PRÓXIMOS PASSOS


Os benefícios parecem claros e os desafios também estão presentes, inclusive para o controle externo. Morini, do TCMSP, propôs a criação de um plano de execução BIM no próprio Tribunal, “para auditar online e ‘pé no barro’, para acompanhar a regulamentação e o plano de execução das obras da PMSP, para ampliar o domínio das ferramentas e avançar na direção de o município ter um CDE próprio, a exemplo do Paraná. 
Russel Rudolf Ludwig, Presidente do SINAENCO sinalizou que estamos recém no começo desse investimento e destacou a importância deste evento tanto para órgãos de controle quanto para secretarias e empresas que executam as obras públicas.


Marcos Monteiro, da SIURB, disse que desde os anos 90 se ouve falar na modelagem e que a Prefeitura caminha para operacionalizar a implementação do BIM em todos os seus órgãos competentes.


No encerramento, o Chefe de Gabinete da Presidência, Rubens Chammas, salientou a alta qualidade do fórum e que este foi o disparador para outros eventos do gênero. 


“Precisamos de capacitação”, sentenciou o Presidente do TCMSP, Conselheiro Domingos Dissei, comprometido em preparar os gestores públicos a errarem menos. “Por que o Tribunal está nisso? É para a gente ter economia!”, destacou. O papel de uma Corte de Contas é buscar economia do erário através do controle externo concomitante, reforçou Dissei. E o BIM vem somar-se à lista de tecnologias que o TCMSP desenvolveu e vem utilizando nos últimos anos, que foram listadas pelo Presidente na abertura do evento: ensaios de laboratório, sistemas Átomo, Ábaco e Íris, aplicação de drones e motolink, instalação de câmeras nas obras para acompanhamento real time e, em breve, o Tribunal deve usar o pavscam, tecnologia de escaneamento da pavimentação para conservação da malha viária.


Apostando em projeto firme para uma obra de qualidade e na ampliação da tecnologia para a economia ao erário, Dissei ponderou que nem mesmo o BIM substitui o engenheiro de ir até a obra e acompanhar in loco coisas que só a sensibilidade humana é capaz de detectar.

 

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